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Como tratar a escoliose?

Aproximadamente 10% das pessoas diagnosticadas com Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA), isto é, aquelas que apresentam a curvatura da coluna com ângulo Cobb acima de 10°, precisam realizar tratamento. Se diagnosticados a tempo, o tratamento conservador é extremamente eficiente, sendo que apenas de 0,1 a 0,3% inevitavelmente necessitarão correção cirúrgica.

Atualmente, o tratamento de EIA preconizado nos consensos internacionais (NEGRINI et al, 2012 e NEGRINI et al, 2018) consiste em Exercícios Fisioterapêuticos Específicos para Escoliose - EFEE, uso de órtese corretiva (colete ortopédico) e cirurgia corretiva. A definição do tratamento se dá de acordo com diversas condições, como: o grau Cobb da curvatura da coluna, a torção, a flexibilidade, a idade do/a paciente, o nível de desenvolvimento ósseo, histórico familiar, entre outras. Evidentemente, as condições para escolha do tratamento, bem como a adesão ao mesmo, são fatores determinantes.

Há certo consenso entre especialistas sobre a adoção do o ângulo Cobb como principal parâmetro para escolha de tratamento (NEGRINI et al, 2018), conforme apresentado na tabela abaixo.

Tratamentos indicados para escoliose, de acordo com o grau Cobb
Grau Cobb Tratamento
Entre 10o e 25o Exercícios Fisioterapêuticos Específicos para Escoliose - EFEE
Entre 25o e 40o-50o (conforme diversos fatores) EFEE e órtese (colete)
Acima de 40o-50o(conforme diversos fatores) Cirurgia

O que se observa no Brasil e em diversos países é que os casos de cirurgia aumentam muito acima do índice considerado inevitável (de 0,1% a 0,3%), principalmente, por duas situações:

  • Quando a EIA não é detectada precocemente;
  • Quando a EIA é detectada em graus abaixo do limiar cirúrgico, mas o tratamento conservador é ineficaz devido: a) ao uso de órtese não bem ajustada e/ou usada de forma inadequada; b) não realização (ou realização inadequada) de EFEE; c) realização de outros procedimentos fisioterapêuticos não comprovados cientificamente como eficazes para tratamento de EIA.

O tratamento conservador da EIA, segundo a SOSORT (NEGRINI et al, 2012), é composto por todas ações terapêuticas excetuando o tratamento cirúrgico. Deve ser empregado com quatro objetivos básicos:

  1. Parar a progressão da curva na puberdade (ou até reduzi-la);
  2. Prevenir ou tratar a disfunção respiratória;
  3. Prevenir ou tratar síndromes de dor na coluna vertebral e;
  4. Melhorar a estética através da correção da posição do corpo.

A relevância da eficácia do tratamento conservador da EIA relaciona-se diretamente com qualidade de vida; não só durante o período de tratamento, como para o bem-estar no âmbito bio-psico-social para o futuro do/a adolescente, proporcionando um cuidado integral à pessoa com EIA. O bom resultado é alcançado através da contenção e, algumas vezes, a redução parcial da curvatura, assim como sua estabilização, evitando a necessidade de cirurgia. Isso significa valorizar a funcionalidade em detrimento do ideal de retitude da coluna vertebral. Mas isso só se torna possível se houver detecção precoce, que possibilita o tratamento oportuno da EIA. A sua história natural mostra o quanto é fundamental a identificação o mais breve possível para que se possa obter o melhor benefício no seu tratamento e evitar cirurgia e comorbidades futuras (LONSTEIN e CARLSON, 1984).

Conhecer a história natural da patologia significa ter as ferramentas para entender se as medidas terapêuticas adotadas serão eficazes ou não; também permite identificar a melhor abordagem a ser utilizada. Lamentavelmente, no Brasil são comumente recomendados  métodos ou técnicas sem embasamento científico para o tratamento da escoliose (por exemplo, RPG, Pilates e Natação).

Uma característica comum a todas as formas de tratamento conservador é a necessidade de envolver ativamente o paciente e os cuidadores (NEGRINI et al, 2009). São considerados elementos cruciais do tratamento conservador: prover informação desde o primeiro contato (BETTANY-SALTIKOV et al 2011); educação do paciente e sua família; monitoramento sistemático dos resultados; avaliação da adesão do paciente; e verificação e modificação de métodos no decorrer do tratamento.

Para alcançar o melhor resultado possível, o tratamento conservador deve ser realizado por uma equipe terapêutica experiente, incluindo médico, fisioterapeuta, ortesista, nutricionista, assistente social e psicólogo, entre outros. Grupos de apoio também são importantes no tratamento conservador da EIA. Nesse sentido, pensar o tratamento conservador de EIA articulado à Atenção Primária à Saúde pode significar maior adesão e efetividade, bem como um cuidado integral às pessoas.

A EIA é uma doença crônica; não há cura. Quanto mais precoce a detecção e o tratamento adequado, menor a possibilidade de evolução da deformidade e maior estabilidade. As pessoas que estabilizaram a EIA com níveis acima de 40o Cobb apresentam maior possibilidade de progressão da deformidade na vida adulta, bem como o desenvolvimento de comorbidades, podendo afetar sua qualidade de vida, sua vida social e laboral.

Vejamos os principais tratamentos conservadores para escoliose reconhecidos cientificamente como eficazes:

 

Bibliografia